Arcano 08 – A Justiça: O Espelho da Verdade e do Equilíbrio no TarotAproximadamente 4 min de leitura

No grande palco da vida, onde cada passo e escolha tecem a trama do nosso destino, encontramos figuras que nos convidam à reflexão profunda. Uma dessas figuras emblemáticas no Tarot é A Justiça, tradicionalmente o Arcano Maior de número VIII (embora em alguns baralhos apareça como XI). Ela não surge por acaso; sua presença marca um momento de avaliação, de encarar as consequências dos nossos atos e de buscar a harmonia perdida ou a ser conquistada.
Imagine uma figura sentada, não em um trono qualquer, mas em um assento que denota autoridade e estabilidade, muitas vezes posicionado entre duas colunas, como pilares que sustentam a ordem do mundo. Essa é A Justiça. Ela não se esconde atrás de vendas, como tantas vezes a vemos representada popularmente. No Tarot, seus olhos estão abertos, fixos, encarando quem a observa. É um convite direto: a verdadeira justiça começa dentro de nós, na honestidade com que olhamos para nossas próprias ações e motivações.
Em suas mãos, ela equilibra os instrumentos do seu poder. Com a mão direita, ergue uma espada. Mas não se engane, não é uma espada de agressão gratuita. Ela aponta para o alto, simbolizando a clareza mental, a capacidade de discernir a verdade, de cortar as ilusões e as desculpas. É a força da razão, a decisão firme que separa o certo do errado, o justo do injusto. Representa também a responsabilidade e a coragem necessárias para aplicar essa clareza primeiro em nós mesmos, antes de julgarmos o mundo exterior.
Na mão esquerda, repousa uma balança. Seus pratos, perfeitamente alinhados, falam de equilíbrio, imparcialidade e ponderação. É o símbolo da necessidade de pesar todos os lados de uma questão, de considerar as nuances, de ouvir todas as vozes antes de chegar a uma conclusão. A balança nos lembra que cada ação gera uma reação, que existe uma lei de causa e efeito regendo o universo e nossas vidas. Em algumas representações, um prato pode conter uma moeda (o material) e o outro uma taça (o emocional), sugerindo a busca pelo equilíbrio entre esses dois planos fundamentais da existência.
O próprio número VIII (8) reforça essa ideia de equilíbrio e perfeição. Simbolicamente, o 8 é visto como um número de harmonia cósmica, a união do céu e da terra (como seus dois círculos interligados sugerem), a estabilidade em dobro (sendo o dobro do 4, número da estrutura). Ele representa um ponto de ajuste, onde as contas são acertadas e o equilíbrio é restaurado.
Quando A Justiça surge em uma leitura, ela pode indicar diversas situações. Pode falar de questões legais concretas, processos, contratos, mas sua mensagem transcende o mundano. Ela nos chama a agir com integridade, honestidade e ética em todas as nossas relações e empreendimentos. É um lembrete para sermos responsáveis por nossas escolhas, pois, como diz o ditado, “cada um colhe aquilo que plantou”. A Justiça representa esse momento de colheita, onde recebemos as recompensas ou enfrentamos as consequências do caminho percorrido.
Ela nos convida a buscar a verdade, mesmo que doa, a tomar decisões baseadas na lógica e na razão, sem deixar que as emoções turvem nosso julgamento. Contudo, alerta também para o perigo da rigidez excessiva, da crítica implacável e da falta de empatia. A busca cega pela imparcialidade pode nos tornar frios e distantes. O desafio é encontrar o ponto de equilíbrio: ser justo sem ser cruel, ser racional sem perder a humanidade.
Encarar A Justiça é, portanto, encarar a nós mesmos no espelho da verdade. É um chamado ao autoconhecimento, à retidão de caráter e à busca constante pelo equilíbrio em um mundo que frequentemente pende para os extremos. Ela nos assegura que, no final, a balança sempre encontra seu eixo, e a verdade, por mais que demore, prevalece.
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