Nanã Buruquê: a Sabedoria Ancestral e o Ciclo da Vida e da MorteAproximadamente 2 min de leitura

Nanã Buruquê: a Sabedoria Ancestral e o Ciclo da Vida e da MorteAproximadamente 2 min de leitura

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Nanã Buruquê é o orixá mais antigo do panteão africano-brasileiro. Senhora das águas paradas, dos pântanos, da lama e da memória ancestral, ela representa o princípio e o fim de tudo. Sua energia é densa, silenciosa, mas profundamente sábia. Onde há mistério, há Nanã.

Nos dicionários de símbolos, a lama, seu elemento mais conhecido, é vista como origem da vida e matéria da morte. É da lama que viemos, e à lama retornamos. Por isso, Nanã está ligada ao útero da Terra, ao nascimento e à decomposição. Ela é o barro primordial que molda e desfaz a carne. É o ventre que acolhe e o túmulo que guarda.

Enquanto os orixás mais jovens agem com fogo ou com força, Nanã se move com tempo. Seu poder é o da paciência. Seus caminhos não são de pressa, mas de permanência. Ela carrega um ibiri, feixe de galhos sagrados, que limpa, afasta o mal e conduz os espíritos. Na simbologia, esse instrumento é também o cetro da justiça cármica, o que se planta, colhe-se. Com ela, não há espaço para engano.

Seu domínio sobre a morte não é de terror, mas de transição. Nanã não mata, ela transforma. Recebe os que partiram e os conduz ao renascimento. Por isso, entre os simbolistas, ela aparece associada à espiral, ao movimento que nunca termina, mas se renova. A espiral é o caminho do espírito que aprende, morre e nasce de novo, sempre mais sábio.

No sincretismo, Nanã é comparada a Sant’Ana, mãe de Maria, avó de Jesus. Ambas são velhas que guardam a tradição e transmitem o saber. Isso reforça sua imagem como avó cósmica, mulher de cabelos brancos que tudo viu, tudo sabe, tudo espera.

Nanã ensina que a morte não é fim, mas portal. Ensina também que a sabedoria não se encontra no barulho, mas no silêncio do tempo. O pântano onde ela habita pode parecer sombrio, mas ali repousam as memórias do mundo, os segredos do início e do fim.

Respeitar Nanã é honrar a ancestralidade. É aceitar os ciclos da vida. É compreender que há beleza no velho, valor no que se desfaz, e luz no que parece escuro. Ela não é uma orixá de grandes palavras, mas de grandes verdades. E seu mistério, como a lama, sustenta a vida.

Valter Cichini Jr:.

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