HadesAproximadamente 3 min de leitura

No universo simbólico, Hades, deus do submundo na mitologia grega, ocupa um papel singular, ele representa tanto a inevitabilidade da morte quanto a complexidade do que existe além dela. Seu nome, por si só, carrega ecos de mistério, silêncio e transformação.
Ele não era visto como um deus maligno, mas como uma figura de equilíbrio. Diferente de seu irmão Zeus, senhor dos céus, ou Poseidon, rei dos mares, Hades reina sobre aquilo que está oculto, o submundo, o reino dos mortos e das riquezas minerais da Terra. Ele simboliza a finitude da vida física, mas também a estabilidade e a riqueza interior que podem ser encontradas quando se encara a sombra e o desconhecido. A coroa escura e o cetro que o acompanham indicam autoridade sobre o destino final de todos, sem distinção entre ricos e pobres, jovens ou velhos.
Diversos elementos reforçam a simbologia de Hades. O mais conhecido é o elmo da invisibilidade, que lhe permitia mover-se sem ser visto, representando o poder do que é oculto e a presença de forças invisíveis na vida humana. O cão de três cabeças, Cérbero, guardião de seu reino, simboliza a fronteira entre a vida e a morte, a proteção do mistério e a inevitabilidade do ciclo existencial. O cipreste, árvore ligada ao luto, e as chamas discretas de tochas em rituais fúnebres também remetem a Hades como guardião da passagem.
A imagem de Hades encontra ecos em várias tradições. No Egito, Osíris desempenha papel semelhante, presidindo o julgamento das almas. Na mitologia nórdica, Hel, deusa do reino dos mortos, reflete a mesma função de guardiã do fim da vida física. Entre os povos mesoamericanos, Mictlantecuhtli, senhor do submundo asteca, traz uma visão igualmente sombria e necessária para a manutenção do equilíbrio cósmico. Em todas essas culturas, a morte não é entendida apenas como término, mas como transformação, e seus guardiões são símbolos de poder, respeito e mistério.
Do ponto de vista humano, Hades pode representar nosso inconsciente, um espaço de memórias, desejos reprimidos e potencial de transformação. Enfrentar “o reino de Hades” é encarar o que normalmente evitamos, mas que precisa ser reconhecido para o crescimento pessoal. Jung e outros estudiosos do simbolismo enxergam nesses arquétipos uma metáfora do processo de morte e renascimento interno, onde precisamos “descer ao submundo” de nossas próprias experiências para emergir com mais clareza e consciência.
A simbologia de Hades nos lembra que o invisível, o que está abaixo da superfície da vida, é tão essencial quanto o que vemos. Ele fala sobre finitude, mistério e transformação, mas também sobre estabilidade e riqueza oculta, tanto literal, no interior da Terra, quanto simbólica, no interior do ser humano. Compreender Hades como símbolo é um convite a perder o medo do desconhecido e a aceitar que todo fim também guarda um novo início.