SethAproximadamente 4 min de leitura

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Seth, também conhecido como Set ou Sutekh, é o filho de Geb (a Terra) e Nut (o Céu), irmão de Osíris, Ísis e Néftis. Sua figura é um paradoxo que se manifesta em múltiplas dimensões:

1 – O Senhor do Deserto e da Tempestade: Seth é a personificação das terras estéreis, do deserto implacável que cerca o fértil vale do Nilo. Ele representa o que é selvagem, indomável e perigoso. Suas tempestades e ventos violentos são a manifestação física do caos, a quebra da rotina e da estabilidade. Simbolicamente, ele é o limite e o estranho, a força que reside além das fronteiras da civilização.

2 – O Protetor Contraditório: Antes de ser demonizado, Seth desempenhou um papel crucial. Na mitologia solar, ele era o único deus forte o suficiente para proteger a barca solar de Rá (o deus Sol) durante sua perigosa jornada noturna pelo submundo, defendendo-o da serpente Apófis, o símbolo da não-existência. Aqui, Seth representa a força bruta e a agressividade controlada que são necessárias para manter a ordem. O caos, ironicamente, é usado para combater um caos ainda maior.

3 – O Assassino de Osíris e o Princípio da Oposição: O mito mais famoso de Seth é o assassinato de seu irmão, Osíris. Este ato o consolida como o deus da inveja, da traição e da desordem. Osíris representa a ordem cíclica, a vida, a vegetação e a civilização. Ao matá-lo, Seth se torna o princípio da oposição necessária. A morte de Osíris é o que permite seu renascimento como senhor do submundo, completando o ciclo da vida, morte e regeneração. Sem a desordem de Seth, não haveria a renovação de Osíris.

A representação mais intrigante de Seth é o seu animal totêmico, o “Animal de Seth” ou Sha. Esta criatura, com corpo de cão ou chacal, focinho longo e curvo, orelhas quadradas e cauda ereta e bifurcada, não corresponde a nenhuma espécie conhecida. Este mistério é, em si, um poderoso símbolo:

  • O Inclassificável: O Animal de Seth simboliza o que está fora da Ma’at (a ordem cósmica), o que não pode ser nomeado, classificado ou domesticado. Ele é a representação do estranho e do desconhecido.
  • Outras Associações: Em diferentes épocas, Seth foi associado a animais temidos e poderosos, como o hipopótamo, o crocodilo, a serpente, o porco e, notavelmente, o burro (símbolo de teimosia e ignorância em alguns contextos posteriores). Sua cor era frequentemente o vermelho, a cor do deserto, do sangue e da paixão violenta.

A energia simbólica de Seth não se restringe ao Egito:

  • Mitologias Estrangeiras: Devido à sua associação com a violência e o deserto, Seth foi por vezes sincretizado com divindades estrangeiras de guerra e tempestade, como o deus cananeu Baal. Essa conexão reforça seu papel como a força que irrompe de fora, o elemento não-egípcio.
  • Oposição e Dualidade: O arquétipo de Seth, o irmão sombrio que se opõe ao herói civilizador (Osíris), ecoa em várias mitologias. Ele é o adversário, a sombra que testa e fortalece a luz. Na psicologia analítica, ele pode ser visto como a Sombra que todo indivíduo ou sociedade deve enfrentar e integrar.
  • Tradições Esotéricas: Em algumas vertentes do esoterismo e do ocultismo moderno, Seth é reinterpretado não como o mal, mas como o princípio da individualidade radical e da autotransformação. Ele representa o poder de desafiar dogmas e criar a própria ordem, um arquétipo de rebelião e força interior.

A história de Seth nos ensina que o caos não é apenas destrutivo, mas também criativo. Ele é o motor da mudança.

“A ordem sem a desordem é estagnação. A desordem sem a ordem é aniquilação.”

Seth é o lembrete de que a vida é um equilíbrio dinâmico. O deserto (Seth) define e valoriza o oásis (Osíris). O conflito (Seth) leva ao crescimento e à evolução. Ao confrontar o deus da desordem, a humanidade egípcia reconheceu que a sombra é uma parte inseparável do cosmos, uma força poderosa que, quando compreendida, garante a continuidade da própria ordem que ela ameaça.

Portanto, olhar para Seth é olhar para a nossa própria capacidade de violência, de ruptura e de transformação. É reconhecer que, para que a ordem floresça, é preciso haver um lugar para a força selvagem e indomável do caos. Ele é o espelho que reflete as partes de nós que precisam ser integradas para que possamos nos tornar inteiros.

Valter Cichini Jr:.

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