BrahmaAproximadamente 3 min de leitura

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No universo da simbologia hindu, Brahma ocupa um lugar silencioso, porém essencial. Ele é o criador do mundo, o arquiteto do tempo, o ponto inicial de tudo o que existe. Apesar de ser uma das três principais faces da trindade sagrada do hinduísmo, junto de Vishnu (o preservador) e Shiva (o transformador), Brahma é o que menos recebe culto e templos. Essa ausência não é falta de importância, pelo contrário, é símbolo da própria natureza do princípio criador, que, depois de gerar, cede espaço para que a vida aconteça.

Brahma é quase sempre representado com quatro rostos voltados para os quatro pontos cardeais. Cada rosto simboliza uma das quatro direções do espaço e, mais profundamente, os quatro Vedas, os textos sagrados mais antigos da Índia. Assim, Brahma não só cria o mundo físico, mas também a sabedoria, a linguagem e a ordem. Seus quatro braços seguram objetos simbólicos: um rosário (ciclo do tempo), um livro (conhecimento), um pote com água (fonte da vida) e, às vezes, uma flor de lótus (pureza e manifestação).

O fato de Brahma ter nascido do umbigo de Vishnu, brotando de uma flor de lótus, também carrega significado simbólico. A lótus é um arquétipo universal do renascimento, da criação que surge do caos original, a flor pura que nasce da lama. O umbigo, centro do corpo, é o elo entre o visível e o invisível. Isso aponta para a ideia de que Brahma não é um criador absoluto e independente, mas uma emanação da própria ordem cósmica, do “Ser” que tudo sustenta.

Em muitos dicionários de símbolos, Brahma é descrito como o senhor do tempo. Ele criou o dia e a noite, as estações, o ciclo do nascimento e da morte. Ele é o tempo que começa, mas também o que logo passa, e por isso é pouco adorado. O criador, depois da criação, torna-se quase invisível. Essa ideia ecoa outras tradições: o Deus dos primeiros capítulos do Gênesis também cria e depois se retira, dando ao mundo autonomia.

Alguns estudiosos associam Brahma ao elemento ar, outros ao fogo, devido à sua ligação com o ato de criar e inspirar. No entanto, há consenso em apontá-lo como a própria inteligência ordenadora do cosmos. Ele é o logos dos gregos, o verbo criador que, ao ser pronunciado, organiza o caos.

Curiosamente, Brahma também carrega lições morais. Uma antiga lenda conta que ele, ao criar uma filha (Sarasvati, deusa do conhecimento), se encantou por sua beleza e tentou desejá-la. Para fugir de seu olhar, ela se moveu para todos os lados, obrigando Brahma a criar múltiplas faces para segui-la. Shiva, vendo esse desejo desgovernado, puniu Brahma e removeu seu quinto rosto. Essa história nos lembra que o ato de criar deve ser guiado pela consciência e não pelo ego, uma mensagem simbólica presente em diversas mitologias.

Portanto, Brahma não é apenas o criador do mundo. Ele é símbolo do início, da inteligência cósmica, da ordem que emerge do caos, do tempo que corre e do saber que orienta. É o ponto de partida de toda jornada simbólica. Não precisa ser cultuado em altares – está presente sempre que algo novo começa, seja uma ideia, uma vida ou um universo.

Valter Cichini Jr:.

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