Oxalá: Orixá da Criação e da PazAproximadamente 3 min de leitura

Oxalá é um dos orixás mais respeitados e reverenciados dentro das tradições afro-brasileiras. Ele representa a paz, a pureza, a criação do mundo e a ancestralidade. Seu nome vem do iorubá “Obàtálá”, que significa “rei do pano branco” ou “rei do branco”, e sua imagem está sempre associada à luz, à serenidade e à sabedoria ancestral. Nos rituais, Oxalá é o orixá que caminha devagar, como quem sabe que tudo tem seu tempo certo.
De acordo com os mitos iorubás, foi a ele que Olodum/Olodumarê (o Deus supremo) confiou a missão de moldar os seres humanos com o barro da Terra. Oxalá desceu ao mundo carregando uma cabaça sagrada e um punhado de terra, e com isso criou os primeiros seres e deu forma ao mundo. Por isso, ele é visto como o pai da criação, o orixá que deu origem à vida.
A simbologia da criação também aparece no uso do branco como sua cor principal. O branco, além de representar pureza e paz, simboliza o momento inicial, o estado original das coisas, antes da interferência das paixões e conflitos. É a cor do silêncio, da origem, do que está por vir. Oxalá é aquele que lembra a todos o valor da paciência e do equilíbrio.
Oxalá é a calma que vem depois da tempestade, um símbolo de elevação espiritual. Em muitos mitos, ele é retratado como o orixá que evita confrontos, que se mantém em silêncio e que prefere o recolhimento à confusão. É símbolo de conciliação, de temperança e da força que existe na gentileza. Quando alguém está em desequilíbrio, recomenda-se o branco de Oxalá: acender uma vela, vestir-se de branco, fazer silêncio. Ele não responde com ira, responde com luz.
Nos dicionários simbólicos, a figura de Oxalá é associada à luz celeste, ao Sol do meio-dia, em sua forma jovem, Oxaguian, e à aurora calma, em sua forma mais velha, Oxalufã. Ele é a figura do pai idoso, sábio e sereno, que conduz com olhar firme e fala mansa. Seu cajado, chamado opaxorô, é também um símbolo forte, mais do que apoio, ele representa o caminho da retidão, o eixo que liga o céu à terra.
Oxalá também representa o sagrado em sua essência. Ele está ligado à transcendência e à ligação direta com o divino. Seu culto exige respeito, silêncio e cuidado. No Candomblé e na Umbanda, seus dias são de grande reverência. O uso do branco, o jejum, a abstinência de álcool e certos alimentos são expressões desse respeito à pureza que ele exige.
Não se pode tocar em Oxalá com mãos sujas, nem chamá-lo com gritos. Ele vem no tempo certo, com sua força mansa, e transforma tudo com sua presença. Na simbologia universal, ele pode ser comparado ao velho sábio, ao ancião do tempo, ao arquétipo do pai que tudo vê e tudo compreende.
Oxalá não é apenas um orixá, ele é um princípio, ele é a origem da vida, o símbolo da luz que forma e dá sentido, é a lembrança de que há força na calma, de que a criação nasce do silêncio, e de que, por trás de toda matéria, há um gesto invisível de amor e ordem.
Quem caminha com Oxalá caminha em paz.