ParvatiAproximadamente 3 min de leitura

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Parvati é uma das figuras mais encantadoras e profundas do universo simbólico hindu. Esposa de Shiva, o deus da transformação e do mistério, ela representa o princípio feminino do amor, da ternura e da devoção. Mas seu simbolismo vai muito além da imagem de uma consorte, Parvati é a força que suaviza, que atrai e que sustenta. É a mãe, a amante, a asceta, a deusa que desce ao mundo com firmeza e doçura.

No nome Parvati encontramos já uma primeira camada simbólica, filha da montanha. Vinda dos Himalaias ela carrega o arquétipo da mulher que une estabilidade da montanha com espiritualidade elevada. Em muitas tradições simbólicas a montanha é o lugar do encontro entre o céu e a terra, e Parvati é justamente essa ponte entre o divino e o humano.

Diferente de outras deusas que representam o amor como sedução ou paixão arrebatadora, Parvati encarna o amor sereno, o amor que constrói, que respeita e que persevera. Ela não conquista Shiva com artifícios, mas com sua determinação e entrega. Por isso, nos dicionários de símbolos, seu nome aparece associado à paciência, à fidelidade e ao poder da transformação interna. Ela medita, jejua, se purifica, tudo para merecer a união sagrada. Assim torna-se símbolo da disciplina amorosa, da devoção que não é servil, mas consciente.

Nas representações iconográficas Parvati é geralmente mostrada ao lado de Shiva em cenas de intimidade cósmica, onde os dois compartilham um trono ou dançam juntos o ciclo da vida. Às vezes está com os filhos Ganesha e Kartikeya, reforçando seu aspecto maternal. Em outras surge em formas mais intensas e poderosas como Durga ou Kali, mostrando que o feminino também sabe rugir quando necessário. Aqui o símbolo se expande, Parvati não é apenas a doçura, mas o potencial de todas as manifestações femininas, da suavidade à fúria justa.

É importante notar que em muitas tradições simbólicas a união de Parvati e Shiva é vista como um modelo da fusão dos opostos masculino e feminino, espírito e matéria, razão e intuição Não à toa ela é constantemente associada ao caminho da yoga, especialmente à bhakti yoga, a via da devoção. Nesse contexto Parvati ensina que o verdadeiro amor é aquele que nos transforma, que nos aproxima do nosso centro, do nosso sagrado.

No plano psicológico Parvati representa a mulher que sabe de si, que escolhe amar não por carência, mas por plenitude. Ela mostra que a entrega amorosa não é submissão, mas força. E que a verdadeira devoção não é perder-se no outro, mas encontrar-se junto dele.

Parvati é portanto uma imagem poderosa do feminino integral. Não é à toa que seu símbolo é tão vivo ainda hoje, ela fala a todas as mulheres e a todos os homens que buscam uma forma de amar, que seja ao mesmo tempo firme e suave, profunda e libertadora.

Na tradição simbólica seu arquétipo é lunar, mas seu poder é solar. Parvati é a noite serena que prepara o amanhecer. É o ventre que gera o novo, é a presença constante que transforma o caos em compaixão. Ela nos lembra que amar é acima de tudo um caminho, e que cada passo nesse caminho pode ser sagrado.

Valter Cichini Jr:.

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