PlutãoAproximadamente 4 min de leitura

No vasto panteão da mitologia romana, temos Plutão. Frequentemente, a imagem que nos chega é a de um deus sombrio, o senhor implacável do reino dos mortos, um governante recluso e temido. Contudo, a verdadeira riqueza de sua simbologia reside na complexidade de seus domínios e na sua íntima relação com os processos mais profundos da psique e da natureza.
A primeira e mais evidente camada simbólica de Plutão é seu papel como o regente do Submundo. Este não é apenas um lugar geográfico mitológico, mas um arquétipo poderoso que representa o inconsciente humano, o reino do que é oculto, reprimido e desconhecido. A jornada para o Submundo, na mitologia, é a metáfora da descida à própria sombra, um mergulho necessário para o autoconhecimento e a transformação, ele governa o que não pode ser visto pela luz da consciência.
Contudo, Plutão é mais do que o deus dos mortos, ele é o deus das riquezas, essa dualidade é fundamental. As riquezas que ele guarda não são apenas os metais preciosos e as gemas extraídas da terra, mas também os tesouros internos da alma: o potencial não realizado, os talentos ocultos e a verdade mais profunda sobre si mesmo. A terra que contém os mortos é a mesma que nutre a vida e guarda o minério. Assim, Plutão simboliza o princípio de que a verdadeira riqueza, a sabedoria e a renovação, só podem ser alcançadas através do confronto com as profundezas, com o que foi enterrado.
Um dos mitos centrais que define a simbologia de Plutão é o rapto de Prosérpina (equivalente a Perséfone), a deusa da primavera e filha de Ceres/Deméter, que é levada para o Submundo para se tornar a rainha de Plutão. Este mito não é apenas uma história de violência, mas um poderoso símbolo do ciclo de morte e renascimento.
A descida de Prosérpina ao Submundo e seu posterior retorno à superfície por parte do ano (as estações) representa a inevitabilidade da mudança e da transformação. Simbolicamente, é a alma que deve mergulhar nas profundezas da experiência, confrontar a escuridão e o luto, para então emergir renovada e mais completa. O casamento com Plutão, o senhor da morte, é uma iniciação, ela retorna não mais como a menina ingênua, mas como a Rainha do Submundo, detentora do conhecimento sobre a vida e a morte.
Na astrologia moderna, o planeta anão Plutão herdou essa rica carga simbólica, sendo associado à transformação radical, ao poder, à destruição e à regeneração. A influência de Plutão é vista como um catalisador de crises profundas, aquelas que desmantelam estruturas antigas, como o ego, crenças limitantes, velhos hábitos, para que algo novo e mais autêntico possa nascer. Ele rege o que é tabu, a sexualidade profunda, o poder e a morte em seu sentido metafórico: o fim de um ciclo.
Plutão nos convida a olhar para o que está podre ou estagnado em nossas vidas e a ter a coragem de eliminá-lo. É o poder da alquimia da alma, onde o chumbo da experiência dolorosa é transmutado no ouro da sabedoria.
Longe de ser uma figura puramente maligna, Plutão é o guardião da totalidade. Ele nos lembra que a vida não é feita apenas de luz e superfície, mas também de profundidade e escuridão. Ele é o arquétipo que nos ensina a respeitar o mistério, a valorizar o que está oculto e a reconhecer que a verdadeira força e a renovação emergem do lugar mais temido: o encontro consigo mesmo nas profundezas do inconsciente.
Ao integrar o simbolismo de Plutão, reconhecemos que a transformação é o único caminho para a evolução. Ele é o convite para descer ao nosso próprio submundo, não para morrer, mas para encontrar os tesouros que só esperam ser desenterrados. O deus do invisível é, ironicamente, aquele que nos força a enxergar a verdade mais crua e poderosa sobre nossa própria existência.




